quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

'É sexualidade sem amor', diz pastor que organizou marcha contra '50 tons' no RS

Cena do filme "Cinquenta Tons de Cinza"
Em cartaz em mais de mil salas de cinema do Brasil, o filme “50 tons de cinza”, adaptação do primeiro volume da trilogia best-seller de E. L. James, segue gerando polêmica. Em Erechim, no Rio Grande do Sul, a obra foi alvo de uma passeata na segunda-feira (16) a favor da “sexualidade saudável”. A manifestação reuniu cerca de 200 pessoas e foi organizada pelo pastor Geraldino Junior, líder do grupo de jovens da Igreja Assembleia de Deus da cidade.

O pastor tem orientado fiéis a não lerem a obra e nem assistirem ao longa-metragem. “Sadomasoquismo é buscar prazer em impor sofrimento físico ou moral ao outro. Não somos contra quem assiste ao filme ou quem vai assistir. Estamos numa democracia. Somos contra a mensagem. O sadomasoquismo apresenta uma sexualidade sem amor, sem carinho. Isso que a gente quer mostrar para a juventude”, defende o religioso em entrevista ao G1.

O pastor conta que a ideia para o ato, organizado em meio aos festejos de carnaval, surgiu durante um congresso no feriado. Entre outros temas, os participantes discutiram “sexualidade saudável, pureza e romance”. No fim de uma das palestras, o grupo decidiu protestar contra o sadomasoquismo como forma de satisfação sexual. Foi quando o filme da diretora Sam Taylor-Johnson virou assunto.

No entanto, segundo o pastor, não foi um ato de protesto, mas uma crítica a tanta atenção dada ao longa-metragem. “O filme mostra um masoquismo de abuso. Ela tem baixa autoestima. Ele domina, manipula. E ela se sente desejada através dos presentes que ganha porque ela acredita que no final da trilogia ele vai amá-la. Mas na vida real não é assim. Aí entra Lei Maria da Penha”, cita, em referência à violência doméstica.

Para o pastor Geraldino, que também é advogado, o longa-metragem deveria ser permitido somente para maiores de 18 anos. A classificação indicativa é de 16 anos. “Creio que nenhuma mãe gostaria de ver sua filha vivendo uma experiência assim. A própria atriz trouxe isso a público”, acrescenta, ao mencionar a declaração da protagonista Dakota Johnson. Em entrevista a uma revista americana, ela disse que “proibiu” os pais de a assistirem no cinema devido ao conteúdo “inapropriado”, segundo ela.

Os mais de 100 milhões de exemplares vendidos do primeiro livro da trilogia de E. L. James foram a principal motivação para Hollywood levar o soft porn best-seller ao cinema. Os protagonistas da história são a ingênua estudante universitária Anastasia Steele e o milionário, sedutor e dominador Christian Grey. No filme, Grey é vivido pelo ator Jamie Dornan. A relação esquenta quando ele revela suas peculiares fantasias sexuais e faz ela assinar uma espécie de “contrato de submissão”.

“A sexualidade faz muito sucesso. A beleza humana atrai. E sexualidade é um fator biológico. Um filme com pessoas lindas e com essa temática vai, sim, atrair muitos jovens. A minha preocupação é que esse conteúdo é de fácil acesso. Uma menina de 11 anos pode pegar esse livro na biblioteca, na livraria, não há restrição. E ela pode querer praticar esses atos. Como líderes de jovens na igreja, nós temos responsabilidade sobre a juventude”, avalia ele.


Em menos de uma semana em cartaz nos cinemas, “50 tons de cinza” tem dividido opiniões. Alguns criticam o romance de E. L. James por reforçar estereótipos e incentivar a submissão da mulher; outras fãs, porém, reclamam que a adaptação do livro para o cinema ficou “muito leve” e teria transformado a história em mais uma comédia romântica.

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